Foi o que pensei assim que entrei no bar do Fidel (repara no nome sugestivo). As paredes, pintadas de azul, branco e vermelho (para quem não sabe, as cores da bandeira de Cuba), estão repletas de fotografias e frases de conteúdo revolucionário. Espaço especial para Che bem na entrada.

Um belo bar de Humanas (Amo / Sou), como deu para notar. Detalhe interessante: Tem uma galeria no subsolo que abre espaço para novos artistas exporem suas obras. Quem conhece a cena cultural do País sabe que o incentivo às artes em geral é bem menor do que o desejado pelo público interessado. Passa-se por um crivo de conveniência midiática sobre o que deve ou não ser apresentado como 'cultura' para a população. Não é bem assim, gente. A quantidade de bons cantores, escritores, fotógrafos, atores e dançarinos que ainda não foram 'descobertos' pelos programas de talento televisivos é impressionante. Um Salve ao Fidel pela iniciativa. P.s.: Suas miçangas também são bem vindas.



Aos detalhes técnicos: Cerveja baratíssima. Pagamos 6 reais na garrafa e pegamos dose dupla de chopes durante um período promocional. A batata é simplesmente fantástica. Vem com um creme de queijo e parmesão que incentivam o consumismo e a gula lindamente. Dica de quem provou: vale a pena dar uma escapada da ideologia por uma ou duas porções. Três se você aguentar. Rolam também algumas promoções diárias de bebidas e petiscos. Deem uma conferida no espaço.



Gente, sei que estou em falta com vocês. Não, não estou vivendo de boteco em boteco (para minha infelicidade). A vida em Curitiba é linda, mas tá complicado conseguir um trampo fixo. Bem, estou fazendo uns bicos de manhã e a noite numa pizzaria (três quilos a mais por semana) e estou um tanto cansada para manter as postagens em dia. Vou me disciplinar quanto a isso. Depois conto mais sobre os trabalhos e as pessoas lindas que conheci por aqui.

Bar do Fidel - Largo da Ordem, em frente as ruínas.



(Ouve aí antes de começar a ler)

A vida pode ser horrível, mas também pode ser maravilhosa. E ela pode ser horrível e maravilhosa em qualquer parte do mundo. Nem todo mundo precisa largar tudo para conseguir se encontrar. Algumas pessoas conseguem fazer isso simplesmente se relacionando com o bairro onde morou a vida inteira. Que mal há nisso?

O que acontece é que tem gente que tem esse espírito cigano, como eu. E a gente não decide largar tudo, ou deixar a casa dos pais, ou abandonar o emprego por vaidade, pra querer se encontrar. Melhor: vou falar por mim. Eu fiz isso para poder encontrar o outro. E, no outro, tentar me reconhecer melhor. E, com o outro, entender novas culturas, novas formas de amar, diferentes arranjos. Pelo outro, me doar, me entregar. Pedir perdão, compreender. Eu poderia fazer tudo isso sem ter deixado o meu conforto? Poderia, mas eu não quis.

A coisa é: é preciso que parem de romantizar esse tal espírito cigano. Depois que decidi assumir esse risco de me mudar para uma cidade completamente nova e sem nenhuma perspectiva de emprego, muita gente veio me procurar. Gente que se identificou, que queria ter essa coragem. Estando há um mês aqui, a única coisa que posso e preciso dizer é: façam isso somente se a vontade não couber mais dentro de vocês. Só assim vai valer a pena.

Porque, como eu disse, a vida pode ser horrível e maravilhosa em qualquer parte do mundo. E ela vai ser. Você vai sentir falta de coisas que imaginava que não sentiria. Vai ter que lidar com burocracias como se estivesse jogando cabra-cega. Vai ter que, muitas vezes, escolher entre duas coisas incríveis. Vai magoar alguém e se sentir magoado. Vai se doar e se decepcionar. Vai chorar. Muitas, muitas vezes. Vai sentir aquela angústia (aquela!) e, se você tiver caído no mundo com a ideia de se encontrar, vai começar a achar que cometeu um grande erro. Você vai ter que lidar com dinheiro, vai ter que pedir ajuda, vai precisar - quem sabe - ficar horas sem comer. Vai precisar trabalhar com coisas chatas e ficar se perguntando por que fez faculdade. Vai sentir falta de se sentir parte de alguma coisa, de se reconhecer nos lugares e nas pessoas. Vai sentir falta dos seus amigos e, acredite, da sua própria rotina - da qual decidiu fugir.

Qual a vantagem, então? Eu acredito bastante que só vai ter vantagem se você tiver se mudado para um mundo completamente novo porque desejou de todo o coração. Porque, aí, apesar de todas essas coisas horríveis, a vida vai continuar sendo maravilhosa. Você vai conhecer pessoas sem pré julgá-las. Vai se inspirar por histórias bem mais incríveis do que a sua. Vai perceber que ainda há gente generosa e amorosa no mundo. Vai descobrir que algumas pessoas têm o dom de despertar o melhor em você. Vai querer conhecer o motivo de cada rua, cada praça, cada prédio e, conhecendo, descobrir quão incríveis podemos ser. Vai ver a natureza de outra forma. Vai valorizar quem ficou pra trás e ainda se faz presente. Vai sorrir. Muitas, muitas vezes. Rir de doer o estômago. Vai ficar bêbado com gente divertida.

E o melhor de tudo: você vai saber qual é a sensação de fazer exatamente aquilo que tanto sonhou. É um mar de rosas e espinhos, mas, para mim, está sendo uma experiência única e enriquecedora de autoconhecimento e, principalmente, de troca (com as pessoas, com a cidade, com a vida, com o universo e, especialmente, com Deus). E, neste instante, sinto que estou exatamente onde deveria estar.

O apartamento fica a quatro quadras de onde estou. Mas aqui não é como lá. As ruas são mais largas e os quarteirões, maiores. Passavam das dez e o frio fazia doer as pontas dos dedos. Ela me chamou pra ir lá, disse que estava tudo bem, que poderíamos ver um filme ou algo mais. Seria a terceira vez que os visitava. Cidade nova, carne nova. Decidi evitar o perigo e peguei um táxi. Dez reais.

Tive um sonho estranho. Eu e minha mãe navegávamos em uma canoa e, não lembro direito, parecia um filme de terror, mas estranhamente eu não sentia medo. A sensação de que tudo poderia acabar mal não me aterrorizou. Não naquela noite. Dormi feito um anjo - se é que essa expressão faz algum sentido.

Às 11h, eu não conseguia abrir os olhos direito, enquanto segurava uma xícara de café. Preto, sem açúcar. Houve um tempo em que era mais doce, mas passou. Lemos alguns textos, vimos centenas de fotografias. Conversamos sobre tudo isso e rimos de vídeos engraçados.

"Preciso ir", falei. O estranho é que, na verdade, não precisava. Cidade nova, carne nova. Não tinha quem encontrar ou alguma reunião pra ir. Só um quarto pra voltar - que nem meu é, aliás. Mas, de alguma forma, eu deveria ir. Às vezes, o tempo das coisas se marca naturalmente, como uma cena que precisa terminar para que o filme possa seguir seu fluxo, sua narrativa.

O elevador, antigo e espaçoso, com aqueles botões redondos e pretos, demorou alguns segundos para chegar ao quarto andar. Apertei o botão do térreo, mas curiosamente ele começou a subir. Parecia não parar. Lembrei de um sonho que tive frequentemente durante anos.

Eu entrava no elevador, mas nunca saía no andar desejado. Apertava o sexto e saía no 32º. Apertava o térreo e saía no terceiro andar. A sensação de estar presa, de impotência era horrível. E, por um instante, estranhei aquele velho elevador subindo ao invés de descer. Máquinas!

Parou no 14º andar. Uma senhora entrou e sorriu ao me ver. Talvez, minha expressão estivesse meio estranha, porque ela me olhou como se me perguntasse o que houve. Respondi. Disse que estava em outro andar e o elevador começou a subir. "Em qual andar você estava?". "No quarto". "Nossa, 10 andares acima!".

Ela falou que era assim mesmo. Que, volta e meia, ele parava. "Você nunca ficou presa aqui não?", perguntou numa naturalidade quase estranha. Expliquei que não morava ali. Ela ficou falando sobre como o elevador era velho e, por isso, sempre dava algum problema. Sorri e, ao sairmos, desejei um bom dia àquela simpática senhorinha.

O tempo passa diferente para pessoas e para máquinas. E, talvez a senhora não soubesse, mas o tempo que passou pra ela me ensinou uma coisa naquela manhã. Às vezes, a única opção que temos é, só e simplesmente, esperar a cena terminar.

No nosso quarto dia em Curitiba fazia um frio magistral, como se a própria Elsa estivesse cantando "let it go" no meio das araucárias. Uma amiga - que conheci em Vitória, mas que hoje mora aqui - sugeriu de nos encontrarmos no tal Largo da Ordem. Demorei a gravar esse nome e chamei mentalmente de Travessa da Ordem e Largo do Machado (sim, aquele que tem no Rio de Janeiro) centenas de vezes,

Acabou que ela passou mal e adiou a saída, mas nem por isso eu e Lia iríamos desistir de tomar algumas cervejas e conhecer outras pessoas. Pegamos um táxi, porque, apesar de ser perto, a gente não fazia a menor ideia se era perigoso ou não ir a pé. Por via das dúvidas, fomos de táxi.

O taxista, um gentil "japaboy", nos deixou bem em frente ao Cavalo Babão (um chafariz em que a água sai da boca de uma cabeça de cavalo) que, descobri hoje, é o coração do Largo da Ordem. Como estávamos em pleno domingo frio e véspera de feriado, muitos bares estavam fechados. Fomos descendo a rua pra analisar os preços e as pessoas (hehe), optamos pelo bar 14 Bis Beer, onde a cerveja Original custa R$7,50. 


Tinha um cara cantando músicas dos anos 80 que fez com que eu me sentisse em algum filme da sessão da tarde com a Julia Roberts. Não sei por que exatamente. Fazia muito frio, mas foi divertido. Conhecemos o Alfredo que deu um maço de cigarros para a Lia. E o Palermo, um argentino artista de rua que prometeu nos convidar pro seu aniversário na semana que vem. Sim, eu o adcionei no Facebook e ainda dei R$2 pra ele.

Conheci também o Welington (vai saber a grafia exata) que com 20 e poucos anos já é aposentado do exército por problemas no joelho (WTF?). Mas, mesmo não precisando, ele sai por aí vendendo coisinhas feitas de arame. Ele tem várias tatuagens legais e falou bastante de jesus cristo.



Hoje, acordamos com uma ressaca intensa, mas a minha amiga mandou mensagem dizendo que estava melhor e que queria sair. Nada que um banho e um sanduíche do subway não resolvesse. Voltamos, então, ao Largo da Ordem. Descendo a rua, chegamos à Rua São Francisco que tem muitos barzinhos, cheio de grafites e decorações especiais.


A maioria estava fechada nesse Sete de Setembro, mas ficamos num barzinho fofo do qual não lembro o nome, mas tinha uma limonada maravilhosa que curou a minha ressaca rapidinho. Depois demos uma volta de carro e acabamos voltando pro Largo, porque todo o resto estava fechado. Tá pior que Vitória hahaha 

Andamos bastante, sentamos numa pracinha linda chamada João Cândido que tinha muitas pinhas pelo chão. Depois, fomos pra um barzinho muito aconchegante, o Fidel. Ele tem janelas vermelhas e muitos quadros bonitos. A Lia vai escrever sobre ele depois. 




Enfim, concluí que o Largo da Ordem é a melhor opção de saída noturna pra gente. Tem tantos bares que não sei quando vamos conseguir conhecer todos. Nos sugeriram algumas outras casas noturnas e bares fora desse circuito também. Curitiba é bem boêmia, assim como eu e Lia. Cada dia mais encantada por essa cidade.

Lado negativo: muitos bares fecham aos domingos e feriados. Nesse feriado especificamente, estava tudo meio deserto. 

Lado positivo: tem muitas opções. Bares de todos os tipos, preços e gostos. Além de ter muita gente bonita hahaha



Sábado à noite. Véspera de feriado. Ruas vazias que lembram domingo em Vitória. Muito frio (preciso que saibam a dificuldade de adaptação do meu nariz nesse Estado). E, ainda assim, ficar em casa não era opção pra gente. Depois de algumas pesquisas na internet à procura de barzinhos próximos a nossa hospedaria, encontramos o Mafalda Café Bar Bistrô.

Não é possível saber a dimensão do ambiente olhando a sacada externa. O lugar é lindo e extremamente aconchegante. Pratos estilizados e papéis de parede ornamentam toda a parte interna do bistrô. Tem espaços reservados que dão a impressão de pequenos lounges para quem quer um pouco mais de conforto e privacidade. As mesas são decoradas com quadrinhos da Mafalda. Música de qualidade (estava tocando Clara Nunes quando chegamos e logo em seguida Chico Buarque, gente), bom atendimento e preços acessíveis.

 
Parte central do Café Bar
 

O cardápio conta com variadas opções de café (pausa para acentuar o Irish coffee, que tem whisky como complemento - QUERO), sopas, saladas, petiscos, pizzas, drinks personalizados e sobremesas. Optamos pelo caldo de feijão, batata frita e (não podia faltar) a cerveja. Aparentemente, curitibanos gostam de pouco sal na comida, mas isso de modo algum prejudicou o delicioso sabor dos pratos escolhidos. Um salve extra para a batata acompanhada de queijo parmesão. Maravilhosa!!


Não podia faltar, né?
 

Salinha da frente do bar


E é isso: Depois de muito papo e uma necessária dose de álcool, saímos satisfeitíssimas do Mafalda café e Bistrô prometendo retornar em breve.

 Amanhã, pode ser?? ;)

Mafalda Café Bistrô - R. Tibagi, 75 - Centro, Curitiba - PR, 80060-110
(41) 3079-1623
Acordei disposta a ir visitar o Jardim Botânico hoje. Lia preferiu arrumar suas coisas no ármario e ver o jogo do Brasil. Ela disse que, como agora mora aqui, outro dia ela vai. Retruquei dizendo que daqui há seis meses é capaz de ela não ter ido. haha Enfim, depois de uma aventura culinária fazendo macarrão no microondas (pq deus?), me arrumei e fui enfrentar esse friozinho.

Graças a Deus o Google existe e, graças ao Google, existe o Google Maps que me ajuda a chegar em qualquer lugar - mesmo eu me perdendo às vezes. Não tem nenhum ponto de ônibus muito perto daqui. Aliás, tem um na frente da pensão, mas tudo é muito confuso e ainda não sei quais ônibus passam aqui.

Andei um cadinho até a Avenida Sete de Setembro (não é uma rua cheia de bares como em Vitória haha é uma AVENIDASSA) e lá peguei um ônibus "de tubinho", que é como estamos chamando os ônibus interligados do BRT. Desci na estação Jardim Botânico, três paradas depois e pronto.

O local é público, mas é também um dos principais pontos turísticos da cidade, por isso, mesmo que na cidade tudo esteja fechado por conta do feriado, lá estava cheio de gente tirando fotos e de crianças correndo de lá pra cá.

Percebi alguns casais e grupos de adolescentes que, provavelmente, estavam só passeando e não turistando como a maioria de nós. Enfim, o Jardim Botânico é lindíssimo. É uma grande extensão de área verde, com diversas flores, árvores e alguns laguinhos. Tem uma estufa bem bonita, cheia de plantas, onde a gente pode entrar e tirar fotos.

No mais, é um bom lugar pra fazer um piquenique ou marcar um encontro quando o Sol estiver permitindo esse tipo de coisa haha Tirei algumas fotos:








  











Hoje fez sol em Curitiba. Daqueles dias em que a estrela brilhante está lá, mas você não consegue perceber a presença porque a sensação térmica continua sendo congelante. Como não podemos passar o resto dos dias frios embaixo do edredom ou bebendo chocolate quente (o que é muito triste, por sinal), saí a fim de enfrentar o primeiro obstáculo para permanecer na nova cidade: emprego.

Desde que cheguei (ontem), candidatei-me a pelo menos todas as vagas de emprego disponíveis condizentes com meu perfil. Algumas empresas já responderam e marcaram entrevista: para HOJE e no mesmo horário. Iniciei uma jornada 'hobbitiana' pela cidade. Mesmo não sabendo nada além do nome da rua que estou morando e tendo o senso de direção de uma pessoa embriagada, consegui milagrosamente chegar a todos os endereços sem atrasos constrangedores. Nada que um "cheguei ontem na cidade, gente" não disfarçasse.

A tarde pode ser resumida em: "O que não se dizer numa entrevista de emprego e ser aprovado mesmo assim". Eu errei o nome da empresa, peguei um item na bolsa para fazer demonstração de produto e percebi meia hora depois que era de uma marca rival, disse que relaciono mentalmente nome de bairros que parecem próximos (nem eu sei o que quis dizer com isso), falei que larguei a faculdade para viajar 'por aí' e por fim, mas não menos inconveniente, soltei que já me considerava indiretamente funcionária da loja: "porque quando as pessoas não tem mais opção de presentes, eu indico seus produtos".

Com essa célebre sentença, fui encaminhada para a segunda etapa. Pois é

Dica da chefe: Pessoas, é sempre bom manter a tranquilidade na hora de conversar com os entrevistadores. Sociabilidade e um pouco de humor são essenciais para acalmar os nervos. Procurem saber a respeito da empresa contratante e estude o perfil desejado para os cargos em aberto. Lembrem-se: Todos passam por isso, todos ficam nervosos e TODOS (sem exceção) precisam dessa vaga.    


Fiquei imensamente feliz. Tanto que me perdi na volta pra casa. Saltei no ponto errado e quando perguntei onde ficava a praça "Comendador Grijó" ninguém sabia. "Curitibanos, é uma praça super famosa que fica perto da rua 'Marechal Mascarenhas'". O nome da praça é na verdade Santos Andrade e a rua é Marechal Deodoro. "Cheguei ontem na cidade, gente!!". Sempre funciona. Depois de cinco quilômetros andados (em círculo), finalmente retornei ao meu novo lar (só para andar mais 1,5 km até o shopping com a Bella e comprar cobertas decentes para passar a noite).